Indústria alemã está interessada em produtos brasileiros de baixo carbono

A indústria alemã está consciente dos desafios técnicos e econômicos para adotar o hidrogênio de baixas emissões de carbono e vê com grande interesse a possibilidade de transferir parte das cadeias de suprimentos para outros países, como o Brasil, de modo que possa importar produtos verdes intermediários e dependa menos do novo energético.

A avaliação é da diretora-executiva do Instituto E+, Rosana Santos, depois de passar dez dias numa missão com governantes e industriais do país europeu. “Há um consenso de que algo nesse esquema não está bom. Vamos ter que pensar em uma coisa diferente. Eu joguei em todas as reuniões: vocês estão pensando num plano B? Vocês estão pensando em transferir parte dessas cadeias de suprimento num país que consiga fornecer de forma mais barata esse pedaço da cadeia? A indústria pulou imediatamente: é isso que a gente precisa fazer!”, lembra.

Dentre os desafios para a transição energética com o hidrogênio, Santos destaca questões técnicas que ainda exigem muita pesquisa e desenvolvimento, como os riscos de vazamentos, uma vez que a molécula do gás é tão pequena que chega a atravessar a estrutura de aço de um gasoduto convencional.

No caso brasileiro, a especialista entende que o desenvolvimento de projetos de produção de hidrogênio para exportação possa ser uma alternativa para o país aprender a lidar com isso, de modo a poder desenvolver um mercado doméstico.

Além disso, Santos defende a importância de o país também focar nas alternativas de descarbonização baseadas no carbono biogênico. “O hidrogênio tem um papel importante, mas não será um milagre que substituirá o petróleo. Entre o preto e o branco, há infinitas tonalidades de cinza que incluem biocombustíveis, biometano e outras biossoluções. Precisamos de um combo de estratégias integradas para alcançar uma transição energética eficiente”, avalia.

Como parte dessas estratégias, Santos defende o uso de biometano, por exemplo, para reduzir rapidamente as emissões em setores estratégicos como o químico e o siderúrgico. Os alemães já estão na fila para fazer suas encomendas de produtos descarbonizados intermediários dessas cadeias.

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