Rosana Santos e Stefania Relva**
A transição energética para o baixo carbono não é apenas uma mudança de combustível ou uma moda passageira: é uma oportunidade de ouro para o Brasil transformar o jogo econômico e social. Trocar um tipo de energia por outro não é como mudar de marca de sabão em pó. É um processo complexo que envolve investimentos massivos, criatividade, adaptação e ajustes constantes. Não estamos apenas trocando o uso de petróleo pela energia eólica; estamos redesenhando todo um sistema produtivo, desde a matriz energética até a forma como fabricamos e consumimos.
E por que isso é tão importante? Porque é preciso entender que a transição energética não é um fim em si mesma, mas um meio para o país alcançar uma economia mais sustentável e equitativa. No Brasil, temos um potencial gigante nas mãos, um verdadeiro “tesouro verde” que pode impulsionar nossa economia e melhorar a qualidade de vida de milhões.
A urgência climática coloca para o Brasil uma janela de oportunidade de expandir e diversificar seu parque industrial para atender à crescente demanda internacional por produtos de baixo carbono, cujas regras de comércio começam a ser delineadas por mecanismos como o CBAM e o IRA.
Nossos recursos renováveis são uma bênção: conseguimos produzir energia eólica com fatores de capacidade superiores a 50% e energia solar centralizada com aproximadamente 30% de eficiência. Também temos um potencial ainda inexplorado para biogás e biometano, estimado em pelo menos 10 vezes o da Alemanha, por exemplo. Mas precisamos usar esses recursos de forma inteligente e estratégica. Não basta exportar matéria-prima; precisamos criar valor agregado aqui mesmo, desenvolvendo tecnologias e produtos que atendam às necessidades globais.
Peguemos o hidrogênio como exemplo, exportar única e exclusivamente o hidrogênio, significará exportar água, vento e muito provavelmente subsídios. Agora, se utilizamos esse hidrogênio aqui, podemos desenvolver tecnologia e exportar produtos de maior valor agregado necessários no mundo todo, como o combustível de aviação sustentável e o aço verde. Essa estratégia também pode trazer benefícios internos, como a produção local de fertilizantes verdes, reduzindo a nossa dependência de importação, num país que é um dos maiores produtores de alimento do mundo. Exportar apenas o hidrogênio seria como entregar a receita e ignorar o banquete completo que podemos criar aqui.
Mas é claro que, para criar o banquete inteiro, precisamos de mais do que um único ingrediente. É preciso estruturar toda uma nova indústria, gerando toda a cadeia e seus elos, incluindo a produção do hidrogênio, transporte, demanda, regulação, financiamento e certificação.
Esses são os principais pontos trazidos no estudo 12 Insights do Hidrogênio – versão Brasil, que será lançado no dia 18 de abril. Nesse estudo, o Instituto E+ Transição Energética e o think tank internacional Agora Industry, trazemos os principais pontos para o desenvolvimento de uma indústria do hidrogênio sustentável no Brasil, que garanta uma transição energética à altura do nosso potencial.
Então, para que serve a transição energética? Serve para transformar o Brasil em um líder global em economia verde, para criar empregos, aumentar a renda e promover o desenvolvimento sustentável. É hora de deixar de lado as velhas mentalidades e abraçar um futuro com energia (limpa) e inteligência.
* Este artigo foi originalmente publicado na Megawhat.
** Rosana Santos é diretora-executiva e Stefania Relva é consultora sênior do Instituto E+ Transição Energética.