Uso de carbono biogênico também é transição

Rosana Santos*

O aumento da produção de energia elétrica a partir de fontes renováveis, a produção de hidrogênio de baixas emissões e a eletrificação de processos são considerados, na maior parte do mundo, como as únicas alternativas para a transição energética. Mas o carbono biogênico pode fazer a diferença nesse processo, pelo menos em países com condições geográficas como as do Brasil.

Essa constatação, que faz parte da visão do Instituto E+, gerou intenso debate em reunião da Global Clean Energy Network da qual participei na semana passada como parte da programação da Berlin Energy Transition Dialogue 2024.

Os especialistas presentes no encontro estavam muito preocupados com a constatação da Agência Internacional de Energia Renovável (Irena) de que, no ritmo atual, não será possível atingir a meta de triplicar a capacidade de geração renovável no mundo até 2030. Esse compromisso, assumido por cerca de 200 países na 28a COP, em dezembro do ano passado, representaria atingir 11 TW instalados em menos de sete anos.

Evidentemente que o progresso inadequado em relação a essa meta – bem como as preocupações da entidade quanto ao ritmo da eletrificação dos transportes e do desenvolvimento de sistemas para produção de hidrogênio de baixas emissões – chamam a atenção diante da urgência climática.

Mas justamente essa urgência tem de servir de alerta para o fato de que a transição energética deve ir muito além dessas opções. Substituir fontes fósseis pelo uso do carbono biogênico, ou seja, aquele que é produzido naturalmente a partir, por exemplo, da decomposição de resíduos, pode dar uma contribuição enorme nesse processo.

Essa mudança não só pode ampliar enormemente a contribuição do Brasil na descarbonização, como colocar no mapa da transição energética outros países do Sul Global com geografias semelhantes à nossa cuja maior parte da população sequer conta com as chamadas fontes modernas de energia – a eletricidade e o gás liquefeito de petróleo.

Por isso, celebramos: durante a reunião, a GCEN assumiu o compromisso de refletir sobre a inclusão do tema na sua pauta de atividades. Um pequeno passo que pode estimular o desenvolvimento de projetos em diversos países, representando importantes avanços para uma transição energética muito mais eficiente e inclusiva para todos nós.

* Rosana Santos é diretora-executiva do Instituto E+ Transição Energética.

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