Protecionismo em Washington, um novo consenso em Belém 

Já faz algum tempo que Washington deixou de apoiar o famoso consenso da economia global que leva seu nome: as políticas protecionistas de Trump apenas consolidam esse movimento.  

Estabelecido no final dos anos 1980, esse consenso incluiu a atribuição de papeis específicos para as diferentes geografias, incluindo a oferta de matérias primas por parte de economias periféricas, como o Brasil, e a transferência de indústrias para a China.  

“Houve uma combinação de interesses entre os dois lados, que levaria a uma das mais espetaculares mudanças econômicas contemporâneas. Os EUA entrariam com capital, máquinas, tecnologias, modelos de negócios e gestão, e a China entraria com mão de obra, então extremamente abundante e barata, e condições regulatórias, logísticas e de infraestrutura bastante vantajosas”, explica o professor Jorge Arbache, em artigo publicado no Valor Econômico

A China, no entanto, foi muito além do previsto no pacto: a industrialização lhe permitiu um desenvolvimento exponencial, de modo que hoje está próxima de se tornar a maior economia do mundo. Por outro lado, a indústria americana encolheu, em boa parte como resultado de políticas corporativas de otimização de custos e maximização de lucros e da busca por alcance global, como detalha Arbache. 

Hoje, o movimento de “reshoring” dificilmente reverterá essa situação, uma vez que empresas que fecham as portas na China para reabrirem nos EUA o fazem com uso intensivo de robôs e IA, entre outros aspectos detalhados no artigo.  

Mas, independentemente de seus resultados, essas transformações na geopolítica reforçam a necessidade de o Brasil e outros países do Sul Global também questionarem os papeis que lhe couberam nesse consenso. 

A vantagem é que, mais do medidas protecionistas como as impostas pelo novo governo norte-americano, temos a oportunidade de atrair investimentos industriais por nossas características genuínas, como nosso potencial de energia renovável a custos competitivos, a disponibilidade de minerais críticos e outras matérias primas, e de mão-de-obra qualificada, entre outros aspectos. 

O fato é que, diante da importância da descarbonização das economias em meio à crise climática, a COP30 é a grande oportunidade de abraçarmos essa transformação e mostrarmos para o resto do mundo que também estamos no jogo e que podemos protagonizar um novo consenso global, o Consenso de Belém. 

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