Por que não refinar silício no Brasil?

Tecnologias associadas à transição energética (low carbon technologies), como painéis solares e carros elétricos, representaram 11,4% das importações brasileiras vindas da China no ano passado. 

Esses itens estão entre os produtos da indústria de transformação, categoria responsável por praticamente a totalidade dos desembarques chineses por aqui no período, conforme dados do Conselho Empresarial Brasil China (CEBC). 

De cá para lá, por outro lado, enviamos principalmente itens de baixo valor agregado, como petróleo e soja, para serem processados e transformados em novos produtos, como mostra o jornalista Pedro Lovisi em reportagem na Folha de S. Paulo.

Para o Brasil, é fundamental contar com essa oferta garantida e qualificada de produtos relevantes no contexto da transição energética.  

Mas essa parceria poderia ser ainda mais significativa para ambas as partes com a instalação de indústrias chinesas por aqui, usando sua expertise produtiva para atuar na base da cadeia da energia solar, ou seja, nas etapas iniciais da cadeia do silício metálico. 

Essa condição garantiria, em primeiro lugar, uma redução das emissões de carbono vinculadas à fabricação dos painéis, medida relevante tendo em vista a exigência, em particular no mercado europeu, de produtos “verdes”.  

Ao mesmo tempo, a mudança poderia aumentar a competitividade da produção final dos painéis, uma vez que hoje boa parte do processamento do silício é feito em países que não dispõem do potencial de energia renovável competitiva verificado por aqui (tanto em termos de eletricidade como de carvão vegetal sustentável, produzido a partir de reflorestamento) e, portanto, tendem a ter custos superiores em mercados que impuserem sobrepreço conforme a pegada de carbono de produtos importados. 

No caso brasileiro, por sua vez, esse adensamento da cadeia produtiva favoreceria a geração de empregos, a melhora nas condições da nossa balança comercial e o aumento da contribuição em favor da descarbonização global.  

O fato é que, dada a capacidade brasileira de realização de atividades intensivas em energia a baixo custo e com baixa pegada de carbono, uma possível planta de refino de silício para aplicações em painéis solares ou até em semicondutores seria uma oportunidade de adensamento industrial de pouco risco e baixo esforço fiscal em termos de política industrial para ambos os países.   

Evidentemente que a ideia não é trazer toda uma cadeia para o Brasil, mas sim identificar etapas nas quais indústrias instaladas aqui possuem vantagens competitivas e podem se integrar com relativa facilidade. Vamos? 

* Artigo originalmente publicado no LinkedIn do autor Edlayan Passos:

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