Analista Milena Megrè demonstra, em painel da COP29, que países do bloco têm muitas diferenças, mas podem ter peso nas decisões mundiais sobre financiamento climático e investimentos na transição.
Os países do BRICS – grupo econômico formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – têm um papel estratégico no cenário global da transição energética, podendo ditar ritmo e terminologia desse processo, além de capitanear investimentos e financiamentos climáticos, segundo Milena Megrè, analista em energia para organismos multilaterais do Instituto E+ Transição Energética.
Milena participou nesta quarta-feira (20) do painel “Transição justa e ambição climática – Quão comprometido estão os países BRICS”, durante a COP29, realizada em Baku (Azerbaijão).
Como representantes do Sul Global, esses países têm pressionado por mais investimentos e financiamento climático, um ponto essencial para a transição energética justa, aponta Milena. “Esses países querem pressionar por investimentos e financiamento climático”, afirmou a analista, destacando que o bloco busca não apenas participar dos debates sobre transição, mas influenciá-los de forma significativa, inclusive na definição da terminologia adotada.
Os BRICS têm em comum a ambição de se estabelecer como protagonistas no debate energético global, mas cada um possui realidades distintas que impactam suas prioridades e estratégias. “Cada país tem uma realidade muito diferente. Temos de entender as prioridades de cada país, inclusive na formulação de suas metas climáticas”, disse Milena, referindo-se às Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs), compromissos climáticos apresentados no âmbito do Acordo de Paris.
Milena destacou o Brasil como um exemplo para a transição dentro do bloco, devido à sua matriz majoritariamente renovável e capacidade de descarbonizar a indústria e contribuir com a descarbonização de outros países por meio da exportação de produtos verdes.
A ideia é que o país se torne um hub global de descarbonização, atraindo investimentos climáticos estratégicos. “A Alemanha não tem ainda a infraestrutura para energia renovável, mas podemos produzir aço verde no Brasil e enviar para lá. Assim, usamos o financiamento climático para ajudar a descarbonizar ambos os países”, exemplificou.
Nesse contexto, reforçou a importância dos financiamentos de projetos climáticos como investimentos de retorno mútuo. “Defendemos que essas finanças devem ser consideradas investimentos, que serão bons para os dois países participantes”, completou.