COP29: Energia limpa deve ficar no Brasil para país produzir e exportar bens industrializados descarbonizados, defende MDIC

Secretário Rollemberg recomendou colaboração ao invés de competição entre as nações e lembrou que produtos industrializados brasileiros de baixo carbono podem ajudar a descarbonizar economia global

O Brasil não deve se limitar a ser um mero exportador de matérias-primas ou de hidrogênio verde e outras energias limpas, mas sim agregar valor localmente, fortalecendo as cadeias produtivas e contribuindo de forma sustentável para o desenvolvimento do mercado internacional de produtos industrializados de baixo carbono. 

Essa visão, em linha com as teses do Instituto E+ Transição Energética, foi a principal mensagem do secretário de Economia Verde, Descarbonização e Bioindústria do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Rodrigo Rollemberg, durante evento na COP29 em Baku (Azerbaijão), nesta quinta-feira (14).

Em evento realizado pela iniciativa Industrial Transition Accelerator (ITA), Rollemberg destacou o papel fundamental do Brasil na economia global descarbonizada. Segundo ele, a emergência climática exige uma mudança de paradigma no comércio internacional, substituindo a competição pela cooperação. 

“Temos de trocar o ambiente de competição por um ambiente de cooperação mútua, já que a emergência climática afeta a todos, mas afeta mais gravemente países em desenvolvimento”, disse. 

A visão de Rollemberg vai ao encontro do que defende o Instituto E+ Transição Energética, que trabalha para que a transição energética na indústria brasileira seja uma alavanca para o desenvolvimento socioeconômico do país. Para tanto, a ideia é que o Brasil não seja apenas um exportador de commodities, mas sim de produtos industrializados de baixo carbono, com alto valor agregado e baixo impacto ambiental.

Para o secretário, a produção de hidrogênio verde no país deve ir além da exportação simples para a Europa, e sim estimular o desenvolvimento de indústrias de suprimentos locais. “Queremos adensar as cadeias produtivas do Brasil, trazendo as indústrias de suprimento para cá. Produzir cimento verde, aço verde e contribuir para a descarbonização, por exemplo, do setor automotivo da Europa e do mundo através do aço verde”, afirmou.

Rollemberg defendeu ainda que o combate às desigualdades sociais passe pela transição energética e que a escolha da alocação de investimentos considere as peculiaridades regionais, distribuindo os valores de forma justa. “Temos irmãos na África, na Ásia que sequer têm energia adequada para cozinhar. Não temos de falar em hidrogênio para uns poucos, enquanto milhões de pessoas ainda usam lenha para cozinhar e sofrem com doenças respiratórias”, disse.

Minerais estratégicos – Em sua fala, Rollemberg ressaltou também que a simples exportação dos minerais estratégicos disponíveis no país, sem agregação de valor, não é sustentável. “Queremos fazer agregação de valor dentro do Brasil. Não é sustentável, do ponto de vista ambiental e econômico, extrair matéria-prima no continente, exportar para outro continente e depois ver esses produtos retornarem com valor agregado”, disse. Ele também reforçou que o apoio dos países desenvolvidos é fundamental para essa transformação.

Por fim, o secretário celebrou a parceria do Brasil com o ITA para atrair investimentos e financiamento externo necessários para projetos de descarbonização. O primeiro projeto dessa parceria foi fechado com a Atlas Agro, como destacou a diretora-executiva do Instituto E+, Rosana Santos, em artigo recentemente publicado no jornal A Tribuna.

O que é o ITA

O Industrial Transition Accelerator (ITA) é uma iniciativa criada para apoiar a transição industrial de países emergentes e desenvolvidos, promovendo a colaboração e oferecendo suporte financeiro e técnico para projetos de descarbonização. Na COP29, o Brasil apresentou seu compromisso com o ITA, visando transformar sua base produtiva e acelerar o desenvolvimento de uma economia de baixo carbono com apoio internacional.

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