COP29: Financiamento tem de ir além de tecnologias “chiques”

Rosana Santos, do Instituto E+, defende aplicações de recursos em opções existentes para a transição energética, como biocombustíveis e biometano

O financiamento destinado à transição energética não deve ser voltado apenas a projetos considerados inovadores – como a produção de hidrogênio de baixas emissões de carbono – , mas também para tecnologias que já estão disponíveis, em especial no Sul global, e que podem contribuir de maneira significativa para a descarbonização do transporte e da indústria. 

Exemplo disso é o biometano, uma solução já existente no Brasil e que pode ser usada em diversas rotas produtivas, como a siderurgia, em que o hidrogênio vem sendo visto como a principal solução para substituição dos combustíveis fósseis. 

Essa foi uma das contribuições de Rosana Santos, diretora-executiva do Instituto E+ Transição Energética, no painel “Unlocking the potential of green and innovative technologies: stepping up financial tools to scale up technological innovation”, organizado pelo Banco Europeu de Investimento (EIB), nesta quarta-feira (13) na COP29, em Baku. 

Segundo Rosana, embora tecnologias como hidrogênio e baterias estejam avançando rapidamente, “há um número de tecnologias que estão prontas, como os biocombustíveis sustentáveis – sustentáveis porque usam a terra de uma forma correta e geram empregos de qualidade”, disse. “Não devemos buscar somente o financiamento para algumas tecnologias que são muito chiques”.

Na sua avaliação, soluções mais acessíveis como essas, as “low hanging fruits”, ficam à margem das prioridades. “Essas tecnologias, como os biocombustíveis e o biometano, são tipicamente adotadas no Sul global, onde temos terra e minerais. Temos tudo. Por que só estamos falando de tecnologias do futuro e não do que já temos atualmente?”, questionou.

A diretora do Instituto E+ também chamou a atenção para a questão da sustentabilidade dos veículos elétricos. Ela destacou a importância de, nas discussões sobre os modais de transporte, se considerar o ciclo de vida das baterias e a necessidade de adaptar as estruturas regulatórias, especialmente em países com grande extensão territorial, como o Brasil. Para ela, a solução para a mobilidade sustentável pode estar em uma combinação entre veículos elétricos, híbridos movidos a biocombustíveis (como o etanol), e baterias, adaptando-se a cada contexto regional. “Entendo que o hidrogênio pode ser o caminho do futuro, mas não há outras formas de chegar lá?”, questionou Rosana.

Além disso, na busca por uma transição justa e globalmente inclusiva, Rosana sugeriu que é preciso rever conceitos estabelecidos desde o consenso de Washington de 1989, adotando uma perspectiva de nível de emissões e redução da desigualdade. Nesse contexto, a revisão das cadeias produtivas também deve considerar o impacto econômico das mudanças. “Se concluirmos globalmente que o jeito que estamos fazendo as coisas hoje tem de ser revisado, o que estamos propondo é que, na COP30, assinemos algo para revisar o consenso de Washington de 1989, com base na transição justa e nas emissões.” Confira mais detalhes sobre a proposta, denominada Consenso de Belém

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