Diante dos eventos climáticos extremos observados nos últimos meses, como os furacões nos Estados Unidos e Caribe, as enchentes no Rio Grande do Sul, Espanha e Portugal, e as ondas de calor inéditas em boa parte do mundo, era grande a nossa expectativa em relação à COP29, considerada a COP do financiamento. Compartilhamos, portanto, da frustração generalizada em relação ao baixo valor aprovado para que os países desenvolvidos apliquem em projetos relacionados às mudanças climáticas naqueles em desenvolvimento.
É inegável, no entanto, que essas duas semanas em Baku proporcionaram questões relevantes para a agenda climática. A principal delas foi o fato de a descarbonização industrial ter assumido um protagonismo inédito na pauta, refletindo a possibilidade de transformação dos processos produtivos como alternativas para mitigação dos impactos ambientais dos países. Trata-se de uma oportunidade promissora tanto para o meio ambiente em geral, como para o Brasil em particular, uma vez que o país tem o potencial de liderar essa transição e utilizá-la como uma alavanca para seu próprio desenvolvimento socioeconômico.
O país pode usar seus recursos energéticos renováveis para descarbonizar indústrias existentes e atrair novos investimentos nessa área, ampliando a fabricação de produtos de baixas emissões de carbono e com maior valor agregado. Ou seja, uma condição que pode reduzir nossas próprias emissões e colaborar com a descarbonização de outras nações, mas com a vantagem adicional de proporcionar retornos financeiros típicos de projetos industriais de alta competitividade.
Evidentemente que esse modelo depende da superação de desafios, como a aceitação, pelo resto do mundo, de rotas de descarbonização biogênicas tipicamente brasileiras, como o uso de biomassas e biocombustíveis, em relação às quais ainda se percebeu bastante resistência nesta COP. Mas o fato é que a aplicação dessas rotas pode ser mais rápida e eficiente agora,
deixando espaço para maturação de tecnologias mais modernas e difíceis de viabilizar hoje em termos técnicos e econômicos.
De qualquer forma, é fundamental frisar que, muito além dos benefícios climáticos, esse tipo de investimento industrial pode proporcionar taxas de retorno competitivas, como parte de uma agenda mais ampla da movimentação de capitais internacionais em busca de oportunidades de investimento.
Dessa forma, não só precisamos trabalhar para ampliar o volume de financiamento climático direto negado pelos países ricos: precisamos também focar em alternativas convencionais que coloquem isso em prática mesmo que sem essa chancela, mas com efeitos tão positivos quanto.