Discussões apontam que temperatura do mundo já superou o 1,5°C e que agora é preciso pensar esforços para retornar a este patamar; Brasil pode ser grande ator nesse objetivo
A discussão sobre a descarbonização industrial assumiu protagonismo na COP29. Esta é uma das conclusões após a primeira semana de evento, que ocorre até o dia 22 de novembro em Baku (Azerbaijão). Isso representa uma mudança em relação aos debates das edições anteriores da Conferência do Clima, refletindo a urgência em transformar os métodos produtivos globais para mitigar seus impactos ambientais. Para o Brasil, a oportunidade é promissora: o país não apenas tem o potencial de liderar essa transição, mas também de utilizá-la como uma alavanca de desenvolvimento econômico e social.
Rosana Santos, diretora executiva do Instituto E+Transição Energética, faz um balanço após a primeira semana da COP. “Eu vi pela primeira vez a discussão de descarbonização da indústria no centro da COP. Antes, até Dubai e Sharm el-Sheikh, eram discussões um pouco mais marginais. Agora esse tema entrou com força”, afirmou.
A descarbonização do setor produtivo é a principal temática dos trabalhos do Instituto E+, que vem estudando amplamente as formas de promovê-la nos setores industriais que dificilmente podem ser eletrificados – como a indústria siderúrgica e química -, aproveitando as características energéticas, econômicas e regionais do Brasil.
Rosana avalia que essa discussão deve levar em conta dois fatores: como esse processo pode se transformar em benefícios para os brasileiros, e como fazê-lo sem copiar soluções de outros países, aproveitando a bioenergia que o Brasil já tem e assim conseguindo ser mais veloz nesse processo, atraindo indústrias para o Brasil.
“A descarbonização tem de ser pensada para trazer valor para a sociedade brasileira. Tem de ser atividade econômica que agrega valor à produção e aos recursos brasileiros. A sociedade brasileira tem de se beneficiar disso”, destacou Rosana. “Mas entre eletrificar tudo e ter hidrogênio para tudo, existem todas as soluções baseadas na natureza no meio: bioinsumos, biocombustíveis, insumos biológicos para a própria indústria. Toda uma economia de carbono biogênico pode nos ajudar a acelerar a descarbonização da nossa indústria. Podemos fazer isso mais rápido do que o resto do mundo e trazer parte do mercado internacional de produtos industrializados para o Brasil”, explicou.
O desafio do 1,5°C – Outro tema bastante debatido na COP29, segundo Rosana, é o impacto do aquecimento global. Estudos apresentados durante o evento indicam que o limite de 1,5°C de aumento na temperatura média global, estabelecido como meta no Acordo de Paris, já foi ultrapassado. Isso desloca o debate para uma nova urgência: reduzir emissões a níveis que permitam voltar a esse patamar.
Rosana Santos abordou a gravidade da situação e destacou o papel do Brasil nesse contexto: “O Brasil pode ser capaz de ajudar inclusive na descarbonização global, descarbonizando seu parque industrial, seus métodos produtivos, e fornecendo produtos de baixas emissões para o resto do mundo”, disse.
A diretora alertou para os riscos climáticos já evidentes. “Hoje já foi essa meta e a gente está indo para uma situação bem complicada para a humanidade. Exemplo das enchentes em Portugal, na sequência de cheias na Espanha, no Rio Grande do Sul e de seca na Amazônia. Precisamos fazer alguma coisa. Eu acho que o Brasil pode fazer muito e usar isso como alavanca de desenvolvimento”, reforçou.