Em evento na COP, Rosana Santos, diretora do E+, destacou a necessidade peculiaridades regionais serem consideradas no caminho da descarbonização
As características regionais têm de ser consideradas na definição das rotas de descarbonização. Essa premissa serve de base para estudo do Instituto E+ Transição Energética em desenvolvimento sobre transformação industrial, incluindo características de hubs energéticos e produtivos no Brasil e a taxonomia relativa ao tema (como a definição do que é o aço verde). A perspectiva é que o material contribua para que os projetos obtenham acesso a financiamentos verdes e participem do mercado de certificados de créditos de carbono.
A prévia do estudo foi apresentada por Rosana Santos, diretora executiva do Instituto E+, no evento “Actions and Opportunities for Industrial Decarbonization in Brasil: Possible Quick Wins by COP30”, realizado nesta sexta-feira (15) na COP29, em Baku, no Azerbaijão.
“Uma energia descarbonizante no Porto de Pecém (Ceará) será diferente das rotas de descarbonização do Sul do país. Nosso projeto busca números de investimento, potencial de demanda e de descarbonização com um olhar regional”, afirmou Rosana.
Ela destacou também que é preciso estudar a demanda por produtos descarbonizados, que deve orientar a indústria: “Sem (conhecermos a) demanda, corremos o risco de produzir aço de baixas emissões que a sociedade não pode pagar ou que não é valorizado”, disse.
A especialista também abordou a falta de uma definição global para o chamado “aço verde”. Segundo Rosana, o Instituto E+ está trabalhando para criar uma taxonomia que defina critérios claros para certificar e habilitar produtos para mercados de crédito de carbono. “Sem isso, não conseguimos entrar em crédito de carbono e certificar (os produtos). É crucial desenvolver rotas alternativas para pequenas e médias empresas que terão acesso mais tardio ao hidrogênio verde.”
Powershoring e investimentos no Brasil – Presente no mesmo painel, o secretário de Economia Verde, Descarbonização e Bioindústria do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), Rodrigo Rollemberg, destacou como o Brasil está pronto para ser um grande exemplo de powershoring, modelo em que a energia limpa é usada para a descarbonização de indústrias no próprio país. Para Rollemberg, nesse contexto o Brasil também pode atrair novos investimentos produtivos e ajudar a descarbonizar economias de outros países.
“Tenho muita convicção de que o Brasil é o local adequado para receber empresas do mundo todo que precisam acelerar seu processo de descarbonizacao. Temos energia renovável abundante, segura e barata, somos democráticos, temos segurança jurídica, e na geopolítica temos boas relações com todos os países do mundo. Podemos ser um país bastante interessante para receber indústrias do mundo todo”, disse Rollemberg.
Ele também mencionou projetos de hidrogênio no centro do país, como a produção de fertilizantes verdes em Uberaba (MG), e parcerias estratégicas, como com o Reino Unido, para facilitar financiamentos e trocar experiências em descarbonização industrial.
Além disso, Maria Netto, diretora executiva do Instituto Clima e Sociedade (iCS), destacou a importância das iniciativas de fomento de investimentos para que o país possa fazer mais com os mesmos recursos. Isso inclui, por exemplo, mecanismos inovadores, como os de “de-risking”, para melhorar a oferta de garantias e alavancar investimentos novos, somados ainda a mecanismos do mercado de capitais.
“O Brasil pode não apenas atrair novas indústrias, mas também fortalecer as existentes com inovação e soluções tecnológicas, como combustíveis de segunda geração”, afirmou a representante do Instituto Clima e Sociedade.