Rosana Santos, do Instituto E+, alertou para a necessidade de que líderes do clima não elejam rotas tecnológicas favoritas, ou estarão reproduzindo desigualdades
É preciso revisar os modelos econômicos que mantêm as cadeias produtivas mais complexas nos países desenvolvidos, fazendo a transição energética ser mais justa. Essa migração também ajudará a mitigar emissões de escopos 2 e 3, ao reduzir o transporte de matérias primas pelo globo e aproveitar energias renováveis biogênicas em países como o Brasil.
Essas foram as principais considerações de Rosana Santos, diretora-executiva do Instituto E+ Transição Energética, no painel “Unlocking bankable Green Industrial Projects, promovido neste sábado (16) pelo Acelerador da Transição Industrial (ITA, na sigla em inglês) na COP29.
Para a especialista, a revisão dessas práticas é urgente, uma vez que pode acelerar a transição energética, reduzir a perpetuação de desigualdades e favorecer geografias específicas.
Uma das propostas centrais do Instituto E+ é justamente aproximar as cadeias de suprimentos de onde os recursos estão localizados, promovendo o desenvolvimento regional e reduzindo desigualdades históricas. Nesse contexto, é preocupante a rigidez de alguns caminhos tecnológicos propostos, como a exclusividade do hidrogênio verde para a descarbonização da indústria do aço.
Isso porque esse tipo de abordagem restringe oportunidades a determinadas regiões, enquanto tecnologias alternativas, como o carvão vegetal sustentável ou a biomassa podem ser mais acessíveis e sustentáveis para países em desenvolvimento e para indústrias menores. “O que vejo é que, quando você define um caminho muito restrito, está beneficiando algumas geografias em detrimento de outras”, pontuou.
Em sua participação no evento, Rosana tratou ainda da relação entre cadeias produtivas complexas e condições de trabalho mais dignas. Segundo ela, a produção de matérias-primas, como mineração ou agricultura, tende a estar associada a empregos precarizados. “Trabalhos mais decentes estão relacionados a produtos mais complexos, com cadeias mais elaboradas. Precisamos aumentar a complexidade das economias, de forma a sustentar os custos de trabalhos mais justos”, explicou.
Esse aumento de complexidade, por sua vez, pode ajudar economias baseadas na exportação de matérias-primas a se tornarem mais autossuficientes e equitativas. Ao produzir localmente itens mais elaborados, essas economias não apenas reduzem sua dependência de exportações, mas também minimizam emissões de escopo dois e três, associadas justamente ao transporte de matérias-primas.
A diretora do Instituto E+ também destacou o exemplo brasileiro na produção de aço verde, principalmente com carvão vegetal sustentável. Nesse sentido, Rosana observou que é preciso que os países desenvolvidos considerem essas tecnologias como verdes e sustentáveis, de forma a ampliar a neutralidade tecnológica e integrar soluções regionais ambientalmente responsáveis.
Essa avaliação favorece uma transição energética verdadeiramente justa, uma vez que isso envolve repensar as relações comerciais globais, que ainda colocam o Sul Global como exportador de matérias-primas e importador de produtos acabados. “Precisamos nos posicionar de forma a agregar valor aos nossos recursos renováveis e humanos, otimizar a forma como transportamos as coisas pelo mundo e promover relações justas entre países”, concluiu.