Transição para aço verde deve contemplar soluções regionais e tecnologias já existentes

Marina Almeida e Simone Klein na COP29
Marina Almeida e Simone Klein na COP29

Debate na COP29 apontou desafios nesse processo, que envolvem subsídios, financiamento e formulação de políticas públicas

A transição para a siderurgia com menor impacto climático deve considerar as condições específicas do setor nos diferentes países, e tem desafios importantes como o financiamento e a formulação de políticas públicas. 

Esses foram os principais temas debatidos na reunião Breakthrough Agenda Policy Network – Meeting on Steel and Trade, realizada nesta segunda (18) durante a COP29, em Baku (Azerbaijão), que contou com a participação das especialistas do Instituto E+ Transição Energética Marina Almeida e Simone Klein.

Diante da importância da siderurgia nas emissões de gases de efeito estufa, há consenso da necessidade de uma colaboração internacional para viabilizar mudanças profundas e sustentáveis no setor siderúrgico. 

Nesse sentido, um dos aspectos centrais do debate foi a questão de se comprovar a eficácia das novas tecnologias antes de abandonar soluções tradicionais de descarbonização. Trata-se de tese defendida pelo Instituto E+, que trabalha com a perspectiva de adoção mais ampla de rotas já existentes no Brasil, como o uso do carvão vegetal sustentável, além do biometano. 

Por outro lado, os participantes da reunião destacaram que a transição para o aço verde exige demonstrações práticas de que métodos sustentáveis podem atender à escala e às demandas da indústria global. Essa abordagem cautelosa reflete a complexidade do processo e a importância de se evitar lacunas tecnológicas que possam comprometer a produção siderúrgica global.

A questão do financiamento emergiu como um dos principais desafios. Foi destacada a necessidade de financiamento concessional para apoiar países exportadores de aço e indústrias que enfrentam impactos econômicos decorrentes das políticas de descarbonização. Esse apoio financeiro é crucial para garantir que a transição ocorra de forma equitativa, minimizando desigualdades e promovendo o desenvolvimento sustentável.

Os subsídios também foram apontados como ponto crítico do debate. Exemplos como os incentivos do Reino Unido e os subsídios chineses para veículos elétricos ilustraram a diversidade de abordagens e os debates sobre a efetividade desses mecanismos. O grupo enfatizou que subsídios podem acelerar a transição, mas precisam ser cuidadosamente ajustados aos contextos geopolíticos e econômicos de cada país para evitar distorções de mercado.

Confira outros pontos relevantes que foram abordados no evento:

  • Necessidade de políticas abrangentes e específicas para a transição: preços de carbono, regulamentos ambientais e padrões de eficiência energética foram apontados como ferramentas importantes. Contudo, a eficácia dessas medidas depende de uma análise cuidadosa dos impactos econômicos e sociais em diferentes regiões, considerando a maturidade tecnológica local e a dinâmica das economias nacionais.
  • Relevância de uma abordagem de cadeia de valor: é fundamental reconhecer que a transição impacta diferentes setores econômicos ligados à indústria do aço. Nesse sentido, acordos bilaterais e multilaterais foram sugeridos como instrumentos estratégicos para fomentar a cooperação internacional e assegurar que todas as partes da cadeia produtiva estejam alinhadas com as metas de sustentabilidade.
  • Novos atores regionais: países do Oriente Médio, entre outros, estão emergindo como potenciais protagonistas no cenário do aço verde. Com recursos abundantes e demanda crescente, essas nações têm a capacidade de influenciar significativamente os rumos da transição e se tornar líderes na produção sustentável de aço.
  • Engajamento direto de governos, associações industriais e empresas: a inclusão desses atores garante uma visão prática e aplicada, permitindo que as políticas sejam desenvolvidas com base em desafios reais enfrentados pelo setor. Além disso, considerações sobre os ciclos de vida dos ativos industriais e os ciclos políticos destacaram a importância de um planejamento de longo prazo. As infraestruturas no setor siderúrgico possuem vida útil prolongada, exigindo políticas que transcendam mandatos governamentais e estejam alinhadas às perspectivas futuras.
  • Aumento das pesquisas: o grupo concluiu a reunião reafirmando o compromisso com a continuidade das pesquisas e o desenvolvimento de políticas sensíveis às diferenças internacionais. A colaboração entre países e setores foi apontada como um elemento essencial para construir um conjunto robusto de recomendações políticas, capaz de guiar o setor siderúrgico na direção de um futuro mais verde e sustentável.

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