COP30: desenvolvimento socioeconômico e transição energética justa 

Foto: Ana Rosa/Presidência da COP30
Foto: Ana Rosa/Presidência da COP30

A COP30 é uma vitrine para o Brasil demonstrar que a neutralidade de carbono só será atingida em 2050 se houver uma reorganização ao menos parcial das cadeias produtivas globais, num movimento que também garanta a transição energética justa.  

Essa reorganização compreende principalmente o deslocamento de estruturas fabris para regiões que dispõem de recursos estratégicos, como energia renovável em condições competitivas, minérios e outros materiais críticos. 

Essas regiões se encontram principalmente no Sul Global, tendo o Brasil como um de seus principais expoentes. Afinal, o país também reúne predicados como a disponibilidade de infraestrutura, mão de obra qualificada e uma diplomacia da paz.  

Tal reorganização é chave para promover a descarbonização da produção de bens industriais tanto nos países periféricos como naqueles que dispõem de matrizes majoritariamente térmicas, mas que hoje concentram a maior parte das cadeias produtivas, e poderiam passar a adquirir bens com baixa pegada de carbono do primeiro grupo de nações.  

Seria, portanto, um processo ganha-ganha, que também estimularia o desenvolvimento socioeconômico de regiões hoje voltadas à produção de bens minimamente processados, significativa concentração de renda e desigualdades sociais latentes.  

Com investimentos produtivos, geração de empregos de qualidade e aumento da complexidade da economia, esse processo tem tudo para melhorar a distribuição de renda e a qualidade de vida das parcelas mais pobres e historicamente vulnerabilizadas da população global. 

Dessa forma, vai permitir uma verdadeira transição energética justa, um conceito que também deve englobar a questão da requalificação e realocação dos trabalhadores hoje dedicados à indústria de petróleo, gás natural e carvão mineral. 

Engajamento da indústria – A implementação de medidas de mitigação e adaptação às mudanças climáticas tem de estar presente de maneira transversal em toda a pauta da COP30, com foco nas ações efetivas que os países podem aplicar o mais rápido possível.  

No caso do Brasil, é fundamental que haja um engajamento da indústria brasileira nessa direção, de modo que a conferência proporcione benefícios concretos em favor da descarbonização e do desenvolvimento socioeconômico do país.  

Esse engajamento pressupõe uma participação ativa do setor produtivo na apresentação de ações concretas a serem implantadas em favor do netzero. Em paralelo, no evento, as empresas têm a oportunidade de colocar sob os holofotes internacionais o nosso potencial de atendimento ao mercado nascente de produtos fabricados com baixas emissões de carbono.  

Diplomacia – A organização da COP30 também reforça o protagonismo do Brasil quanto à diplomacia climática, sempre pautada no multilateralismo, que é fundamental dado o caráter supranacional do tema.  

Nesse sentido, parabenizamos o governo brasileiro pela escolha do embaixador André Correa do Lago como presidente da COP30. Além de especialista no tema, o diplomata é reconhecido internacionalmente por posições muito ponderadas e tem uma capacidade enorme de negociação. 

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