A priorização de insumos de baixa emissão para a descarbonização industrial, o planejamento intrassetorial e a qualidade da governança podem fazer a diferença, segundo análise dos think tanks E+ Instituto de Transição Energética e Agora Indústria.
O grande potencial de energia limpa e um setor industrial bem desenvolvido credenciam o Brasil a se tornar um dos principais polos mundiais de produção, uso e comércio internacional de produtos de hidrogênio e power-to-x (PtX) de baixa emissão. Isso poderia incluir itens fabricados por indústrias básicas, como ferro e aço, bem como combustíveis, como o e-metanol, combustíveis sintéticos e outros.
O aproveitamento desse potencial, no entanto, depende da superação de uma série de desafios, como a priorização do uso do hidrogênio na indústria para aplicações “sem arrependimento”, onde outras opções limpas – eletricidade de fontes renováveis ou biomassa e derivados – não são uma opção; o planejamento intrassetorial em áreas como energia, indústria, transporte, infraestrutura e meio ambiente; boas condições de governança que viabilizem novos investimentos produtivos no país; e o aproveitamento da complementaridade dos recursos energéticos limpos de cada uma das regiões.
Essas condições são abordadas no estudo 12 insights sobre o hidrogênio – edição Brasil, desenvolvido pelos think tanksInstituto E+ Transição Energética e Agora Industry. O estudo foi lançado no evento A Transição Energética Brasileira: 12 Insights sobre o Hidrogênio, realizado em abril de 2024.
“Esperamos que o hidrogênio de baixas emissões possa servir de base para a neo-industrialização verde do Brasil, promovendo o nosso desenvolvimento socioeconômico e permitindo que o país dê uma contribuição significativa para a transição energética global”, resume a directora executiva do Instituto E+, Rosana Santos.
“O Brasil tem amplas fontes de energia renovável, matérias-primas vitais, trabalhadores qualificados e uma indústria de bioenergia madura”, afirma Frank Peter, diretor da Agora Industry. “Isto coloca o país numa boa posição para se tornar um ator chave no desenvolvimento de indústrias net zero e na criação de um mercado global de hidrogénio renovável e seus derivados.”
As 12 perspectivas abordam questões como a perspetiva de que a maior parte da produção de hidrogênio de baixas emissões do país será utilizada para descarbonizar sectores-chave da economia, como a indústria, o transporte marítimo e a aviação, onde a eletrificação direta ou a utilização direta de biometano a partir de biomassa residual não é viável.
Além disso, a expetativa é que a relevância do Brasil em termos geopolíticos permita que o país se torne líder na agenda de descarbonização industrial e no desenvolvimento de parcerias estratégicas para um mercado global de PtX. A presidência do G20 neste ano e a realização da COP-30 em 2025 podem favorecer as condições do Brasil nessa direção.
Mas o estudo ressalta que a viabilidade desses movimentos depende de algumas decisões que ainda precisam ser tomadas no país, como levar em conta a cadeia do hidrogênio nos planos energéticos e garantir que sua produção a partir de combustíveis fósseis com captura e armazenamento de carbono (CCS) seja considerada apenas como uma tecnologia de transição, a ser superada pelo hidrogênio de fontes renováveis. Aponta ainda que tecnologias de baixas emissões mais maduras vão limitar o potencial do mercado de veículos a hidrogênio no país, favorecendo a utilização do hidrogênio em sectores industriais que dificilmente serão descarbonizados de outra forma, como o de fertilizantes, aço e produtos químicos.
A viabilidade desse desenvolvimento também está ligada ao fato de que o hidrogênio de baixa emissão deve ser considerado no país não apenas do ponto de vista energético, mas também por sua importância em termos de mudanças climáticas, o que abre a possibilidade de combinar instrumentos de financiamento das duas áreas.
As discussões propostas pelo estudo incluem ainda a competitividade da cadeia do hidrogênio de baixa emissão no país e o estabelecimento de padrões para o insumo, em consonância com as exigências do comércio global. Há ainda a necessidade de desenvolvimento tecnológico na área, por meio de projetos de pesquisa e desenvolvimento, entre outras iniciativas.
Sobre o Instituto E+
O Instituto E+ Transição Energética é um think tank brasileiro independente cuja missão é fomentar o desenvolvimento de políticas de transição energética para o país com foco na transformação industrial, por meio da produção de conhecimento e da promoção de debates. Essa transição passa prioritariamente por políticas industriais favoráveis à produção e exportação de bens verdes, aumentando a complexidade da nossa indústria e agregando valor às nossas riquezas. Além disso, a transição deve ser socialmente justa, economicamente eficiente e sempre comprometida com as evidências científicas das mudanças do clima.
Sobre o Agora Industry
O Agora Industry desenvolve estratégias cientificamente sólidas e politicamente viáveis para percursos de sucesso rumo a uma indústria com impacto neutro no clima – na Alemanha e a nível internacional. A organização, que faz parte do grupo Agora Think Tanks, trabalha independentemente de interesses econômicos e partidários. O seu único compromisso é com a ação climática.