O Brasil tem enorme potencial para receber investimentos para a produção das novas energias renováveis, como biometano e hidrogênio, e deve se posicionar perante o mundo para priorizar o uso dessas energias para sua reindustrialização. Essa é a avaliação de Rosana Santos, diretora-executiva do Instituto E+ Transição Energética, que participou de três painéis relativos ao tema nesta terça-feira (5), na COP-28, em Dubai.
No primeiro painel do dia, Transição Energética no Sul Global (realizado no Pavilhão Brasil), Rosana afirmou que o país pode fazer a transição energética e ainda ser remunerado por isso, se desenvolver uma indústria de produtos descarbonizados, que possam ser vendidos para o mundo com um prêmio verde.
Nesse sentido, mais tarde, no painel Global change – decarbonization and sustainability, destacou que o Brasil pode usar seu potencial de produção de hidrogênio para a produção do aço verde ou de um produto intermediário, o ferro esponja. “Nós conseguimos produzir um produto descarbonizado mais barato para o mundo e, ao mesmo tempo, um produto de maior valor agregado do que exportar apenas minério de ferro”, afirmou.
Política industrial – Para isso, precisaremos de investimentos, algo que o Brasil também está equipado para receber. Segundo Rosana, o Brasil é visto internacionalmente como um “friendshore”, ou seja, um país com boas relações diplomáticas com o resto do mundo e que pode ser supridor de produtos de baixo carbono a custos competitivos.
“Transacionar para a energia de baixo carbono custa dinheiro. Para os países do Sul global, esse custo às vezes não é pagável. Mas, no Brasil, podemos fazer a descarbonização e ganhar dinheiro se não nos colocarmos em uma posição de submissão, mas sim de desenvolver uma indústria de produtos descarbonizados e vender isso para o mundo”, afirmou Rosana, durante o painel.
Para que isso ocorra, o Brasil precisa criar uma boa política industrial e de financiamentos, para utilizar como insumo industrial o hidrogênio verde que pode produzir.
Hidrogênio e biogás para reindustrialização do Brasil – No segundo painel do dia, com tema Transição justa: desafios políticos, sociais, ambientais, técnicos e econômicos, Rosana destacou a importância de usarmos o hidrogênio e biometano como insumo para fabricação de produtos de maior valor agregado. “A exportação de matérias-primas traz riqueza ao país, mas não cobre todos os custos ambientais e sociais. Precisamos agregar valor à essa produção”, disse Rosana.
A matriz elétrica majoritariamente renovável no Brasil é o que permite que o Brasil dê esse salto, segundo Rosana, conquistada ao longo de várias décadas de políticas públicas e investimento de recursos públicos e privados brasileiros.
“Uma transição justa precisa considerar que não joguemos por água abaixo o que conquistamos. Se aproveitar esse potencial energético renovável, a gente consegue trazer cadeias de suprimento para o Brasil, de modo que o impacto global seja reduzido, e de modo que bons empregos sejam gerados no Brasil. Precisamos olhar de maneira global para as cadeias de suprimentos. A transição justa que nós estamos trabalhando tem essa camada de geopolítica global”, disse Rosana.
Confira! – A íntegra do painel Transição Energética no Sul Global está disponível em https://www.youtube.com/watch?v=-jb9z3NNSC0 . O painel também contou com a participação da presidente da Associação Brasileira do Biogás (Biogás), Renata Isfer. Após o evento, Abiogás e Instituto E+ assinaram um acordo de cooperação técnica para o desenvolvimento do setor de biogás e biometano no Brasil.