Pedalando em uma estrada sinuosa: lições para a sala do conselho 

Imagine que você está andando de bicicleta por uma estrada sinuosa. Você avista uma pedra à frente e, instintivamente, seus olhos se fixam nela. O que acontece em seguida? Apesar de seus melhores esforços para evitá-la, você se vê na direção do obstáculo que queria evitar. Esse é um fenômeno bastante conhecido chamado de fixação do alvo – quanto mais você se concentrar no perigo, maior será a probabilidade de atingi-lo. 

Agora, pense em como esse princípio funciona numa reunião de conselho, especialmente quando o tópico é o desenvolvimento de oportunidades de negócios inovadoras que podem nos levar à neutralidade climática. A necessidade de tais investimentos é inegável, os ventos favoráveis à sua implementação estão ganhando força e todos sabemos que a manutenção do status quo não é mais uma opção. No entanto, abrir novos caminhos requer uma visão clara e a coragem de aproveitar as oportunidades, evitando os perigos da inação.  

No entanto, quando surgem decisões de investimento, muitas vezes os líderes se concentram nos piores cenários, mesmo quando a probabilidade é baixa. Os orçamentos são cortados, os cronogramas estendidos e o progresso paralisado – tudo em nome do “gerenciamento de riscos”. No entanto, algo crítico está acontecendo: quanto mais atenção dedicamos para evitar o fracasso, mais nos direcionamos para ele.  

Ao mesmo tempo, as oportunidades de criação de valor significativo são frequentemente descartadas como meras “vantagens”, removidas da equação de negócios – mesmo quando sua probabilidade de sucesso é maior do que os cenários de risco que dominam a tomada de decisões. Resultado? Os gerentes se concentram em minimizar os riscos, reduzir os custos ao máximo e se preparar para os contratempos, enquanto perdem de vista o panorama geral: a oportunidade de atingir o objetivo. Assim como um ciclista que olha para a pedra, as empresas que se concentram apenas no risco acabam perdendo os resultados que pretendem alcançar.  

Por que isso acontece? Quando ficamos obcecados com tudo o que pode dar errado, criamos uma profecia autorrealizável. Os recursos são reduzidos, a energia é investida na mitigação de riscos e as oportunidades são deixadas de lado. Os projetos perdem o ímpeto, e o foco no fracasso torna o fracasso mais provável.  

“Um navio está seguro no porto, mas não é para isso que servem os navios” 

John A. Shedd

Então, o que devemos fazer? A lição também se aplica aos negócios: olhe para onde você quer ir. Em vez de se fixar nos obstáculos, concentre-se no caminho – e na velocidade – que leva ao sucesso. Isso não significa ignorar os riscos, mas reformular seu foco. Você está gastando energia para contornar as pedras ou seguir pela parte da estrada que está livre? 

As oportunidades de criação de valor e inovação – especialmente aquelas que impulsionam a sustentabilidade e a neutralidade climática – devem ser vistas como centrais para a estratégia de negócios, e não como reflexões posteriores. Essas são as recompensas reais que impulsionam o sucesso de longo prazo.  

Ao mudar o foco da mera sobrevivência para o crescimento, da prevenção de riscos para a busca de oportunidades, os gerentes podem orientar suas equipes para o progresso real. Concentrar-se na estrada livre à sua frente não apenas tem mantém no rumo certo, mas também permite que você aproveite os ventos a favor da inovação e da sustentabilidade.   

Da próxima vez que você se sentir tentado a se concentrar nas armadilhas, lembre-se: olhe para onde você quer ir, não para o que você quer evitar. O caminho para o sucesso sustentável não é apenas uma escolha; é o único caminho a seguir pelas empresas que desejam prosperar em um mundo em rápida mudança. 

Artigo escrito pelo Presidente do Conselho Deliberativo do Instituto E+, Philipp Hauser. Acesse:

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