Este estudo apresenta uma discussão detalhada sobre os caminhos para a descarbonização do setor energético brasileiro. O relatório é subdividido nos setores de Transportes, Indústria, Edifícios e Eletricidade, baseando-se nas categorias consideradas pelo Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa.
Nesse sentido, este relatório/estudo busca elucidar o contexto geral do tema e, de certo modo, levantar hipóteses a serem aprofundadas em esforço de pesquisa ampliado.
Finalmente, merece destaque que a implementação das medidas apresentadas para descarbonização poderá ser incentivada a partir de políticas governamentais. No caso de opções que já apresentam viabilidade econômica, como determinadas ações de eficiência energética, o papel do governo poderá se restringir a definição de linhas de crédito especificas, de modo a incentivar a tomada de decisão da empresa ou indivíduo. Já com relação a tecnologias que ainda não apresentam viabilidade econômica, a medida mais eficaz considerada seria a definição de um preço sobre carbono. Com o alto potencial brasileiro para a produção de recursos renováveis, um pequeno preço já seria o suficiente para causar impactos significativos na intensidade de carbono na economia do país.
Para o setor de transportes no curto prazo há um maior potencial do etanol, cuja produção poderá ser impulsionada pela plantação de cana energia e pelo etanol de segunda geração. Para o médio/longo prazo, há alto potencial da eletrificação no mercado brasileiro, impulsionada pela matriz elétrica de baixa emissão, de diesel verde, combustível de aviação sustentável (SAF) e hidrogênio/amônia de baixo carbono.
As emissões do gasto energético do setor industrial e de produção de combustíveis representaram 6% das emissões brasileiras, que acumularam 128 milhões de toneladas de CO2 equivalente (MtCO2) em 2019. As cinco atividades industriais com maior impacto nas emissões do setor (cerca de 70% do total) são: i) Exploração de petróleo e gás natural; ii) Refino de petróleo; iii) Indústria química; iv) Produção de cimento; e v) Produção de ferro gusa e aço.
O gasto energético proveniente de edificações comerciais, públicas e residenciais representou, em 2019, 7% das emissões do setor de energia, com 30 MtCO2e ao ano, das quais 90% são derivados da parcela residencial. As principais formas de descarbonizar o setor de edificações são i) Eficiência Energética, voltada aos materiais e técnicas de arquitetura; ii) Autoprodução de energia elétrica focado em sistemas solares fotovoltaicos; iii) Energia solar para aquecimento térmico da água; e iv) Motores elétricos de maior rendimento em eletrodomésticos.
A geração de eletricidade representou 13% das emissões do setor energético em 2019, com uma intensidade de emissões de cerca de 87gCO2e/kWh. Esses níveis de emissão são bastante inferiores à referência global, que é próxima de 475 gCO2e/kWh. Isso acontece devido à alta participação de fontes renováveis na matriz elétrica brasileira, principalmente hidrelétrica. Nesse contexto, o maior desafio para o setor elétrico será o de expandir para conseguir responder a demanda de outros setores que apresentam processos de difícil descarbonização, e fazer isso sem aumentar sua parcela de fontes fósseis na matriz.
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