"Não é possível enfrentar a mudança do clima sem combater as desigualdades", afirmou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em seu discurso no evento de abertura da Presidência da 28ª Conferência de Mudança do Clima da ONU (COP-28) neste 1 de Dezembro.
Rosana Santos, diretora-executiva do Instituto E+ Transição Energética, destaca que o Brasil está em posição privilegiada no debate sobre como a transição energética pode - e deve - estar conectada à pauta econômica e social, promovendo reindustrialização e geração de renda.
"O discurso [do presidente Lula] versa essencialmente sobre diminuição de desigualdades. Podemos ligar isso à nossa pauta, promover um rearranjo de algumas cadeias produtivas globais para buscar aquele arranjo que mitiga emissões e também redistribui a criação de empregos de qualidade. Neste sentido, o Brasil está em posição privilegiada para atrair investimentos, aumentar sua indústria e agregar valor às nossas riquezas", afirmou Rosana.
O presidente Lula também reforçou em seu discurso os motes da edição atual da COP-28 (como destacamos em artigo publicado no primeiro dia da COP-28 em nossas redes (link), de que chegou a hora de tirar acordos do papel e transformar a retórica em realidade. Lula compara o momento atual com ambiente da COP-15 (2009), quando o fracasso de acordos anteriores havia esgarçado a confiança na arquitetura da Convenção do Clima e era preciso resgatá-la.
"O planeta está farto de acordos climáticos não cumpridos. De metas de redução de emissão de carbono negligenciadas. Do auxílio financeiro aos países pobres que não chega. De discursos eloquentes e vazios. Precisamos de atitudes concretas", afirmou Lula.
Mobilização regional por investimentos verdes - Um dos eventos que a comitiva do E+ acompanhou nesta sexta-feira foi o painel dos governadores do Nordeste. Governadores da Bahia, Espírito Santo, Pernambuco e Piauí falaram sobre iniciativas de estados, como:
- Lançamento de um Plano de Transição Ecológica de Pernambuco (Permeio);
- Anúncio de investimentos para instalar 10GW de capacidade geradora de hidrogênio verde na Zona de Processamento de Exportação (ZPE) de Parnaíba (Piauí);
- Lançamento do Atlas do Hidrogênio Verde, pela Bahia;
- Criação da estratégia "Fundo Caatinga", para preservar o bioma;
- Lançamento do Plano de Hidrogênio Verde do Piauí (Plano h2VPi).
"Em um evento como a COP, se fala e se discute sobre volume grande de dinheiro para mitigação e adaptação. Os estados precisam fazer seus planos climáticos, terem projetos e estarem preparados para acessar este dinheiro", disse Renato Casagrande, governador do Espírito Santo e presidente do Consórcio Brasil Verde.
Rosana Santos, do Instituto E+, analisa como positiva essa articulação regional em torno de planos e iniciativas. Ela destaca, entretanto, que é preciso que o hidrogênio verde e o biometano que venham a ser produzidos no Brasil sejam dirigidos a potencializar investimentos locais, gerando emprego e renda - e contribuindo na linha do que foi dito pelo presidente Lula em seu discurso: para reduzir a desigualdade.
"É importante que o hidrogênio não seja destinado somente à exportação, e sim usado no processo de neoindustrialização, com a modernização e a descarbonização de indústrias hoje dependentes de combustíveis fósseis, como as de aço, química e de fertilizantes", analisa Rosana.